Tem quem precise ralar de domingo a domingo ou não garante a subsistência.
Tem quem precise postar de desjejum a lookinho ou não garante a audiência.
Tem quem precise lucrar de milhão a bilhão ou não garante a opulência.
A cada dia sobra menos tempo para o que importa, seja ler um livro, seja saborear uma refeição que nós mesmos preparamos, seja tão somente abrir a janela e olhar o nada.
Está faltando uma horinha até para a árvore de Natal. Do pobre que abandonou o hábito de montar a sua – por cansaço e desilusão – ao rico que contrata uma firma para decorar por ele o próprio palácio, não são poucos aqueles que têm deixado de ocupar uma parte valiosa de suas vidas com esse e outros afazeres capazes de tornar o mundo um lugar mais acolhedor.
Faz-se urgente um feriado para que a família possa se reunir e enfeitar sem pressa seu pinheiro. Um segundo Dia da Árvore no calendário. A propósito, o primeiro também deveria ser convertido em feriado – mundial – e cada ser humano, convidado a plantar uma mudinha na data. Oito bilhões de árvores a mais todos os anos, afora as natalinas, e o planeta salvo.
Ai de quem falar em custo diante de tanto benefício.
Ainda nessa vibe de salvar o planeta e, consequentemente, quem vive nele: instituamos o Dia Sem Telas. Nada de celular, tablet, tevê. Conexão – só com a mulher, a mãe, o amigo, o vizinho. Grupo – só se for ao redor de uma mesa, na frente de um palco, em torno de alguém que precise de um abraço. A ideia é que restabeleçamos o wi-fi uns com os outros; que as redes que ainda formamos voltem a merecer o adjetivo sociais.
Uma semana antes eu decretaria feriado o Dia da Poesia. Todo homem, toda mulher, toda criança, todo idoso teria 24 horas livres de qualquer obrigação doméstica ou compromisso profissional para rabiscar e lapidar versos em homenagem a quem quer que desejassem – versos a serem lidos em saraus públicos (ou particulares, para os tímidos) no Dia Sem Telas.
A esta altura algum leitor já terá pensado que sofro de nefelibatismo em estágio avançado – quando o doente traga as nuvens depois de andar nelas. Não. Eu só não perdi a capacidade de imaginar um futuro em que as pessoas e o seu bem-estar sejam prioridades. Eu só não desisti de acreditar que ainda é possível uma alternativa a este presente sem horizonte, sob um céu que anuncia apenas tempestade.
Estou ciente de que tamanha fé só continua viva por eu ter tempo de cultivá-la, por eu ter a oportunidade de regá-la com arte e ócio, por eu não estar submetido a uma jornada diária no modo sobrevivência, caso de tantos e tantas. Daí este reclame à procura de feriados – que na essência é um humilde manifesto em defesa da utopia.
Não se preserva essa rosa tão ameaçada de extinção sem mais folgas na folhinha.