A primeira coisa: vote. Não exercer um direito duramente conquistado por seus pais, avós, bisavós é no mínimo um desrespeito com a luta e a memória deles.
Nem venha com esse papo preguiçoso de que não se interessa por política (deveria), de que político é tudo igual (não é), de que a política nunca fez diferença na sua vida (vou mostrar que fez). Sabe o bendito fruto daquele esforço diário no toalete? Se o destino dele é a estação de tratamento ou o córrego mais próximo, foi a política que decidiu isso por você.
Das vacinas que tomamos nos primeiros meses aos valores maiores ou menores que receberemos na velhice, quase nada escapa de uma escolha política. Ainda que a ignoremos, ainda que a rejeitemos, cedo ou tarde – em geral beeeeeem cedo e daí em diante até o fim – seremos irremediavelmente afetados por ela.
Uma hora e outra, cada um de nós sofrerá as consequências da decisão que definiu se determinado benefício seria direito ou privilégio.
Aqui, a propósito, cabe repetir a pergunta feita certa vez por Paulo Freire: sua base ideológica é inclusiva ou excludente? Noutras palavras: você deseja um mundo em que as oportunidades sejam para todos, independentemente do sexo, da cor, da origem, ou está satisfeito com este mundinho em que (sobre)vivemos, onde apenas poucos têm acesso a elas? Indo além: você crê numa sociedade em que as prioridades sejam o humano e o coletivo ou acha que só é possível existirmos sob a tirania do lucro acima de tudo, do indivíduo acima de todos?
Jamais escolha um candidato sem antes responder a essas questões e saber se tanto ele quanto o partido a que ele pertence responderiam como você.
O tal “votar na pessoa” – sem olhar a legenda que ela integra e o ideário que ela segue –, como tantos fazem e eu fiz um dia, pode ser um tiro no pezinho de esperança que plantamos a cada dois anos. Quantas vezes não vi o sujeito prometer “mais saúde” na propaganda e aprovar ínfimos recursos para a área no plenário, limitando, por exemplo, a distribuição de remédios gratuitos? Se o eleitor soubesse que o pulha e o partido dele eram do tipo que demoniza políticas públicas e enxerga na iniciativa privada a solução para todos os problemas, não teria sido enganado.
Escarafunchar o passado do candidato é tarefa importantíssima. De que lado a criatura ficou quando fragilizaram a proteção ao trabalhador? quando reduziram as aposentadorias? quando privatizaram o metrô e permitiram uma tarifa maior? quando cortaram a verba para a cultura? quando aumentaram o número de armas e munições em circulação, fortalecendo as organizações criminosas? quando autorizaram a derrubada de árvores ou a extração de minérios numa floresta até então preservada?
Democracia exige esforço mesmo. Mas é isso ou deixar que o grupo que quer tudo para si e que o resto se exploda – inclusive o planeta – vença por WO.
Últimas recomendações antes de encontrar a urna eletrônica: jogue no lixo o santinho de quem leva religião para o palanque, de quem adota slogan fascista, de quem espalha mentira sobre vacina, de quem usa o medo (do comunismo, da ideologia de gênero e de outros fan-tas-mas) para ganhar votos, de quem trata artistas e professores como inimigos.
Se tanto cuidado ainda não é garantia de acerto, pelo menos diminui consideravelmente a margem de erro.